terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Príncipe desencantado

Príncipe desencantado

Mais de 15 brasileiras são mortas por dia no País, segundo o Ipea








Um homem bonito, carinhoso e sempre disposto a fazer elogios e oferecer mimos. Aos 16 anos, Glaucia Santos acreditou que havia encontrado a pessoa de seus sonhos e não pensou duas vezes ao começar o namoro com o “príncipe encantado” que ela havia conhecido durante uma festa. O rapaz era cobiçado por outras moças e Glaucia se sentia feliz por ter sido a escolhida.
No auge da paixão, ela só tinha olhos para o namorado. Aos poucos, Glaucia foi se afastando de amigos e familiares para dedicar mais tempo ao amado. Presentes e carinhos faziam parte da rotina dos dois. O ciúme, também. “Ele começou a ir me buscar na porta do colégio e não gostava que eu conversasse com outros homens, até com primos. Também fui me afastando das minhas amigas. Eu achava que o ciúme era normal, pensava que ele iria mudar quando me conhecesse melhor”, relembra.
Para Glaucia, o ciúme significava uma “preocupação em perder a mulher amada”. À medida que passava mais tempo com o namorado, ela começou a perceber que o rapaz esboçava sinais de agressividade: “A primeira vez que ele me empurrou eu fiquei surpresa, mas ele me pediu desculpas e me encheu de beijos”. Aos poucos, o príncipe encantado virou monstro. “Comecei a dormir na casa dele e via algumas coisas erradas. Quando eu perguntava o que estava acontecendo, ele era agressivo, xingava, mandava eu calar a boca. Às vezes ele trancava a porta e não deixava eu ir embora, me obrigava a passar a noite lá”, diz, acrescentando que descobriu naquela época que ele era traficante de drogas.
As agressões verbais se transformaram em agressão física que deixavam marcas roxas pelo corpo da moça. A cada abuso, a autoestima de Glaucia diminuía um pouco mais e ela se via cada vez mais presa ao relacionamento. “Quando eu soube das atividades dele, quis terminar o namoro, mas ele me ameaçava e eu tinha medo”, relata. O relacionamento durou cerca de um ano e sete meses e só terminou após mais um episódio perverso. “Um dia, depois de uma briga, ele me violentou sexualmente na frente de outros homens e ainda me ameaçou dizendo que eles fariam o mesmo comigo”, finaliza.
Vida nova







Após finalmente conseguir fugir das agressões, Glaucia passou a ter “aversão” a homens. Foi nesse período que conheceu o atual marido, Rudnei Gomes. Ela morava em Guararema, no interior de São Paulo, e ele trabalhava na área de hotelaria da mesma cidade. “Eu estava caminhando na rua e a gente se viu. Entramos por acaso no mesmo comércio e conversamos um pouco. Começamos uma amizade e contei minha história. Ele frequentava a Universal e quis me ajudar a superar o trauma das agressões”, fala.
Os dois foram se conhecendo aos poucos. O caráter e o respeito que Rudnei demonstrava foram as características que mais chamaram a atenção de Glaucia. “Ele me respeitava muito. Quando decidimos começar a namorar, ele quis conhecer meus pais, foi algo totalmente diferente”, analisa. Hoje, eles estão casados há 14 anos e têm uma filha, Laura, de 12 anos. “Aprendi que amar é cuidar, respeitar o outro. Ciúme não é cuidado. A gente precisa conhecer muito bem a pessoa com quem está se relacionando, observar os sinais de violência. Aquela coisa que fere e que machuca não é legal. Não vale a pena insistir em um relacionamento assim”, finaliza.
Fim da violência
Glaucia passou pelo ciclo de violência experimentado por muitas brasileiras. O problema costuma começar com cenas de ciúme e discussões e às vezes só termina com a morte da mulher. Mais de 50 mil mulheres foram assassinadas no Brasil entre 2001 e 2011, segundo o estudo “Violência contra a Mulher: feminicídios no Brasil”, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2013. A estimativa é que mais de 15 mulheres morram por dia vítimas de violência de gênero. A maioria das mortes ocorreu dentro de casa e foi praticada por companheiros.
Para quebrar esse ciclo, é fundamental que alguém faça uma denúncia. O alerta é da delegada de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro Soraia Vaz de Sant’Ana. “A denúncia é um instrumento de cidadania, qualquer pessoa que saiba de casos de violência doméstica deve denunciar, como vizinhos, parentes, amigos e conhecidos. A vítima muitas vezes não denuncia por medo ou culpa, ela está numa relação de dependência emocional e/ou financeira com o agressor”, afirma.
A delegada, que já foi responsável por delegacias especializadas em atendimento à mulher, diz que o combate à violência deve envolver toda a sociedade. “A escola e a família devem estar comprometidas a criar uma cultura de respeito à mulher. Mães e pais precisam ensinar as crianças a respeitar as mulheres. Em muitos casos, os agressores viveram em lares violentos e viram a própria mãe sendo massacrada dentro de casa, esses homens cresceram acreditando que são donos da mulher”, analisa, acrescentando que muitos agressores devem passar por acompanhamento e tratamento psicológico.
Problema cultural






O Brasil tem a terceira melhor legislação do mundo no combate à violência doméstica, segundo as Nações Unidas. Criada em 2006, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340) aumentou as penas para agressores e determinou o encaminhamento das vítimas a programas e serviços de proteção e de assistência social. Hoje, todo ato praticado com violência doméstica e familiar contra a mulher é crime e não se permite mais a aplicação de penas brandas como multa e cesta básica. Ou seja, o agressor pode ir para a cadeia.
Na prática, entretanto, a Lei Maria da Penha enfrenta dificuldades para ser cumprida, como despreparo de alguns profissionais, falta de estrutura em alguns estados, medo, vergonha e falta de apoio de familiares. É o que explica Carlinda Tinôco Cis, coordenadora nacional do Raabe, grupo da Universal que oferece ajuda a mulheres vítimas de violência.
Carlinda destaca que o desrespeito às mulheres faz parte da cultura de muitos brasileiros. “A Lei Maria da Penha é completa, mas fica insuficiente quando o agressor se sente no direito de agir de forma livre. A mulher continua sendo perseguida e muitas chegam à morte. A nossa sociedade culturalmente ainda é machista, tem homens que não sabem que o que estão fazendo é crime. O homem que ama de verdade cuida, esse que bate em mulher não tem amor-próprio e muito menos pela esposa que está ao lado dele”, afirma.
Mulheres querem fim do silêncio






Ajudar mulheres que estão em risco: foi com esse objetivo que mais de 2 mil voluntárias do projeto Raabe ocuparam as ruas de várias cidades brasileiras, no último dia 25 de novembro. Idealizado pela escritora e apresentadora Cristiane Cardoso, o evento marcou o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Violência Contra a Mulher.
Com camiseta branca e panfleto na mão, cada voluntária tinha a tarefa de oferecer apoio e orientação a mulheres vítimas de violência doméstica e outros tipos de agressões. As pessoas atendidas receberam rosas vermelhas e foram convidadas a participar de uma reunião especial, marcada para 14 de dezembro em todas as Universal.
Em São Paulo, a data também marcou o encerramento de um ciclo de atividades que durou 16 dias. Nesse período, mais de 400 voluntárias do Raabe e do Godllywood percorreram ruas, pontos de ônibus, trens e comunidades alertando mulheres sobre a violência doméstica.
“O Projeto Raabe abraça a mulher e cuida dela até que ela possa caminhar com os próprios pés. Enquanto a gente não vê resultado, a gente não desiste, mesmo que a mulher caia muitas vezes. O Raabe é paciente e é ouvinte para cuidar”, explicou Carlinda, presente ao evento em São Paulo.






Além do apoio das voluntárias, o evento também contou com a presença de advogadas, conselheiras e assistentes sociais, que ofereceram aconselhamento gratuito nas tendas montadas pelo projeto. “Essa é uma oportunidade fundamental para que a gente possa levar informação às mulheres. Muitas vezes, elas ficam tão desorientadas que não sabem nem qual serviço procurar. Esse trabalho também é uma forma de reforçar a questão da autoestima, pois, uma vez que a mulher se empodera de seus direitos e recupera a autoestima, ela consegue sair da situação de violência”, relatou a assistente social Arlete Lima, que atuou na Praça da Sé, em São Paulo.
O evento também marcou o lançamento oficial do símbolo do Raabe, o laço vermelho, que pôde ser visto em botons pregados nas camisetas de todas as participantes. “Ele expressa a liberdade de sofrimentos, de traumas, de problemas familiares, é o recomeço”, concluiu Carlinda.
Promotora alerta para ignorância dos homens






Acostumada a acompanhar casos de violência doméstica, a promotora de Justiça Maria Gabriela Manssur percebeu que muitos homens voltavam a cometer o mesmo crime. Para tentar mudar essa situação, ela criou em Taboão da Serra (SP) o projeto-piloto Tempo de Despertar, um curso para homens agressores. O projeto tem apoio do Ministério Público de São Paulo e do Núcleo de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Taboão da Serra. Maria Gabriela conversou com a Folha Universal após seminário promovido pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds) de São Paulo.
Folha Universal: Por que criar um curso voltado aos agressores?
Maria Gabriela: É uma nova visão. O trabalho com agressores é parte importante do combate à violência contra a mulher. Nosso objetivo é conscientizar esses homens, levá-los a fazer uma reflexão sobre os atos cometidos para que eles não voltem a praticá-los. A lei não anda sozinha, ela precisa estar de mãos dadas com a educação. Então, precisamos levar informação sobre os direitos da mulher para agressores e também para os jovens em geral. Em 2015, vamos ampliar o curso para outras cidades do Estado de São Paulo.
FU: O curso inclui palestras com psicólogos, delegados e policiais. O que é ensinado?
Maria Gabriela: Os encontros discutem o desrespeito às mulheres, a Lei Maria da Penha, os direitos da mulher, sexualidade, uso abusivo de álcool e drogas. Muitos nunca tinham ido a um psicólogo. Também procuramos entender se esse homem está em situação de vulnerabilidade e oferecemos ajuda aos que estão desempregados, os encaminhamos a cursos, para acompanhamento psicológico e ao tratamento de drogas e álcool.
FU: Qual foi a reação dos homens ?
Maria Gabriela: No início, alguns não gostaram, diziam que não eram criminosos. Mas 75% deles compareceram em todos os sete encontros e participaram dos debates. Tivemos resultados positivos, eles conseguiram se conscientizar sobre a necessidade de respeitar as escolhas da mulher, percebi uma mudança no comportamento deles. Espero que os homens possam despertar para uma nova vida com mais amor e sem violência.
Atenção, isso também é crime
Agressões físicas e sexuais são as ações mais conhecidas quando se trata de violência contra a mulher. Mas existem outras que podem levar agressores para a cadeia. Confira:
• perseguir e ameaçar a mulher
• xingar, insultar  e agredir verbalmente
• difamar a mulher no trabalho dela ou em outros locais
• impedir a companheira de sair de casa ou de trabalhar
• esconder ou destruir documentos da mulher
• forçar a companheira a manter relação sexual – isso é estupro!
• destruir móveis da casa ou roupas e outros pertences da mulher
• obrigar a mulher a atos humilhantes
Fonte: Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006)






SÃO PAULO - Volutários da UNIVERSAL de todo o Brasil visitam, diariamente, unidades da Fundação Casa. Em São Paulo, cerca de 150 pessoas acompanham o pastor Geraldo Vilhena, – responsável pelo trabalho no Estado – nas reuniões realizadas nos locais. Segundo dados da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência (SEDH/PR), no Brasil, o número de menores infratores que cumpre pena aumentou em 28%, entre 2002 e 2006. Em média, há nove adolescentes em regime de internação para cada um em regime semi-aberto. São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará são os Estados com maior execução para este regimeom o objetivo de ajudar na reintegração desses jovens na sociedade, há 10 anos a IURD conta com a ajuda de voluntários de todas as áreas para a realização do trabalho espiritual.




































 Durante os encontros, os internos recebem uma palavra de fé e de esperança. “Nós oramos para que eles sejam libertos dos problemas espirituais e possam receber a presença de Deus”, diz o pastor Geraldo. Semanalmente, são distribuídos cerca de três mil exemplares da Folha Universal e mensalmente mil livros e duas mil revistas Plenitude, para que os adolescentes possam conhecer, de uma forma diversificada, a Palavra de Deus. O grupo também organiza palestras sobre drogas, saúde da mulher – nas unidades femininas –, higiene e educação, além de oferecer doações e amparo aos familiares dos internos. No mês passado, cerca de 200 famílias do Complexo do Brás receberam lanches, roupas, calçados e brinquedos. “Durantes esses eventos, procuramos conscientizar todos sobre a importância de resgatar os valores da família, da formação da criança e do adolescente para a nossa sociedade”, explicou o pastor, acrescentando uma palavra de fé aos que estão sofrendo por terem algum parente sendo escravizado pelo mundo do crime: “Disse o Senhor que se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a su terra”, finali













































































































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